por Paula Venâncio
fotos: Estúdio Roca
Vou contar um segredo. Acabei de fazer uma lista de algumas coisas que me fazem sorrir. Não consigo ainda ranquear essa lista, nem acho que isso seja justo. O sorriso se abre cada dia de um jeito, por uma porção de coisas. Eu sorrio por dentro quando vejo uma criança fazendo um charme diante dos pais que tentam sustentar a cara de adulto dando bronca. Sorrio encantada quando vejo meu bem passar. Revelo os dentes e gargalho na companhia dos bons amigos. Ensaio sorrisos complacentes diante da janela, vendo a chuva molhar o vidro. Abro um sorriso tímido, com direito a bochechas ruborizadas, quando falo alguma bobagem em voz alta. Estou sorrindo agora, ouvindo música e digitando lentamente.
fotos: Estúdio Roca
Vou contar um segredo. Acabei de fazer uma lista de algumas coisas que me fazem sorrir. Não consigo ainda ranquear essa lista, nem acho que isso seja justo. O sorriso se abre cada dia de um jeito, por uma porção de coisas. Eu sorrio por dentro quando vejo uma criança fazendo um charme diante dos pais que tentam sustentar a cara de adulto dando bronca. Sorrio encantada quando vejo meu bem passar. Revelo os dentes e gargalho na companhia dos bons amigos. Ensaio sorrisos complacentes diante da janela, vendo a chuva molhar o vidro. Abro um sorriso tímido, com direito a bochechas ruborizadas, quando falo alguma bobagem em voz alta. Estou sorrindo agora, ouvindo música e digitando lentamente.
E foi sorrindo que eu e o meu bem, o fotógrafo Omar Matsumoto, chegamos ao Espaço Cultural Casimiro de Abreu, sede da Cia Lírica de Teatro, em Santo André. Lá conversamos com as atrizes Carol Tello, Tatty Ramalho, Roberta Conde e com o ator e diretor da Cia., Varlei Xavier.
E foi ele quem começou a nos contar as histórias. Não que ele não seja um cavalheiro, mas tinha ânsia de narrar, como um pai orgulhoso, a trajetória do jovem grupo que surgiu graças a sua experiência nos pátios de escola.
Percebendo a importância do seu trabalho com poesias, realizado com alunos do ensino fundamental, ele decidiu estudar teatro. Foi para a Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Com os alunos com quem trabalhava as poesias, montou um grupo de teatro chamado Peixe Vivo.
Depois que se formou como ator profissional, começou a dar aula de português e teatro no Colégio Central Casa Branca. Levou o pessoal do Peixe Vivo para fazer uma temporada no espaço. O grupo Brinquedo Torto, que é do colégio, também começou os seus trabalhos, foi para Belo Horizonte, ganhou prêmios, assim como o Peixe Vivo, no FETO (Festival Estudantil de Teatro).
Até que chegou um momento que o Peixe Vivo acabou e Varlei percebeu que estava sentindo falta de alguma coisa que havia deixado para trás: a poesia. Com essa pulga atrás da orelha, Varlei com ajuda de Roberta e Kelly, decidiu reformar o galpão onde ensaiavam na escola e recuperar a poesia que havia ficado mais distante em seus processos de criação. Em 2010, surgiram a assim a Cia Lírica de Teatro e o Espaço Cultural Casimiro de Abreu.
Durante o ano de 2010, os integrantes da Cia Lírica administraram o espaço, com um sistema de associados, em que os grupos que quisessem ensaiar no local pagavam uma pequena taxa e passavam a integrar a agenda do mês. Por conta das atividades administrativas, o grupo montou seis espetáculos curtos com poemas, canções, contos de Clarice, poemas mais picantes e crônicas adaptadas para o universo clown.
Neste ano, a Cia. Decidiu priorizar sua criação e estreou espetáculo Dona menina, cadê o seu riso? A elaboração do espetáculo partiu de um argumento escrito por Varlei para um dos ensaios e a construção dos personagens durante os processos do grupo. Com este material embrionário, Varlei procurou Esdras Domingos, seu mestre de dramaturgia, que o ajudou no processo de construção dramatúrgica do espetáculo, que previa a elaboração do texto do espetáculo a partir de um conto.
Com todo esse material nas mãos, conto, dramaturgia e espetáculo, Varlei decidiu realizar um sonho: publicar um livro.
A estréia foi com tanto fôlego que os artistas lançaram, além do livro, com ilustrações de Roberta Conde e prefácio de Esdras Domingos, um cd com a trilha sonora do espetáculo e uma coleção de bonecas dos personagens.
O espetáculo diante de toda sua singeleza apresenta um cachorro de nome Pandolfo que narra a história de sua dona, a menina Catarina. Ela, moça bonita de traços arredondados é dona do sorriso mais bonito do mundo, mas por uma obra do destino, ou melhor, pelas forças de uma sombra má, que atende pelo nome se Zilá, tem seu sorriso roubado. Pandolfo narra a trajetória dos dois em busca do sorriso de dona menina, com direito a muitos desafios e o apoio de uma sábia senhora, dona Aurora.
Assisti a estréia de Dona menina, cadê seu riso? Sai de lá sorrindo e feliz por acompanhar o início da caminhada de mais um grupo no ABC paulista. É fato que hoje o grupo ainda precisa lidar com os muitos problemas que acompanham as companhias independentes da região. Não conseguem ainda se estabelecer como um grupo profissional e se manter unicamente de seu trabalho artístico. Os atores e atrizes da Lírica rebolam como muitos artistas da região para conciliar o fazer teatral e a manutenção financeira de suas vidas. Acreditam e esperam que projetos de leis de incentivo possam ajudar a reverter este quadro, como na experiência vivida por Roberta Conde, em Belo Horizonte, acompanhando grupos profissionais que tinham projetos aprovados com leis de incentivo.
Talvez - e eu tenho mania de compartilhar os meus pensamentos para desesperos dos que ainda tem esperança de encontrar aqui a fala de uma jornalista imparcial (agora gargalho por dentro!) – o primeiro passo, para os grupos independentes da região, seja o de assumir-se como amadores. E isso não é ruim. É necessário para que se possa avaliar as condições de trabalho e valorizar a dura batalha pela qualidade estética dos espetáculos. Para que os grupos possam compartilhar suas experiências, criar um coletivo e seguir sorrindo, com um sorriso forte e determinado em busca de espaço e reconhecimento de suas produções artísticas que refletem e contribuem para a formação cultural das cidades do ABC paulista. Para que possam seguir com o sorriso diferente, como nos diz a sábia dona Aurora, com o “riso conquistado com coragem. Poder que vem de saber profundo. Sorriso que ninguém rouba. Riso eterno, mesmo que entrecortado por uma ou outra lágrima que possa vir com agruras da vida. Riso que cura chaga de cão, que transforma o ambiente e promove prodígios.”
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